4.9.08

Tropa de Elite estréia em Paris e causa polêmica


A estréia ontem do longa-metragem Tropa de Elite, de José Padilha, em Paris, deixou um rastro de polêmicas e críticos divididos, muitos dos quais escandalizados. Destacado em extensas críticas por grandes jornais, como Le Monde, e em reportagens em alguns nos principais telejornais da França, o filme tende a surtir na Europa o mesmo efeito verificado no Brasil: controvérsia e choque diante de uma polícia que mata primeiro e só depois questiona.
Sob o título "Um clipe chocante de elogio à força bruta", o crítico de cinema Jacques Mandelbaum, do Monde, não economizou Padilha em seu julgamento. Ele cita a opção do diretor pelo ponto-de-vista de um policial, explica o drama psicológico do personagem central, o capitão Roberto Nascimento, mas chama a trama de "verniz superficial e inconsistente": "O único objetivo do filme, como seu título indica claramente, aliás, consiste em erigir o mito do Bope". O jornalista termina seu texto sugerindo que a pouca profundidade do thriller não merece sequer que o leitor se deixe envolver pelas polêmicas sobre seu suposto viés fascista, "o que lhe seria atribuir honra demais". Na mesma página, Jean-Pierre Langellier, correspondente do Monde no Rio de Janeiro, dá mais detalhes sobre o sucesso de público atingido pela fita no Brasil e pela crítica social que despertou desde antes de seu lançamento oficial, quando da venda das cópias em DVD pirata.
Tropa de Elite também foi usado como tema pela emissora de TV pública France 2 para investigar, em seu principal telejornal, a violência policial no Brasil. "Um filme coroado pela crítica internacional serve como revelador", disse o apresentador, David Pujadas. A reportagem, de quase três minutos de duração, mesclou imagens da ficção com cenas reais de violência policial no país. A reportagem também ouve Padilha, que dispara: "A própria existência do Bope mostra que a sociedade brasileira é doente". Sobre o filme, a crítica de France 2 é amplamente favorável: "Tropa de Elite não dá lições, mas mostra que um batalhão como o Bope não é só um fracasso moral; é também um impasse político, já que não resolve nada. Pelo contrário."
O filme de José Padilha era esperado nos cinemas da França e desde o ano passado é comentado por cinéfilos em Paris, onde outro thriller brasileiro, Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, marcou os espíritos e tornou-se cult. A curiosidade por Tropa de Elite era tamanha que em outubro do ano passado o jornal Libération, de Paris, enviou ao Rio uma jornalista, que descreveu a pirataria, o sucesso de público do longa e a controvérsia intelectual despertada no país na reportagem "Eletrochoque pirata no Rio". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.